Seja lá qual for o conceito de “literatura de qualidade”, a discussão extremista sobre esse assunto é antiga, cansativa e não leva a lugar nenhum. Tá bom. Leva… a amizades desfeitas, a bafafás nas redes sociais ou, no mínimo, a um monte de unfollows.
Eu sou o tipo de leitora que adora um clássico da literatura e que também lê um erótico ou uma história teen sem problema nenhum. Para mim, um livro tem que: ou me entreter ou me fornecer conhecimento ou ambos. A única coisa que rejeito, mesmo, de verdade, é livro chato e inútil.
Esses dias, dei de cara com um vídeo no youtube cujo título é “Stephen King On Twilight, 50 Shades of Grey, Lovecraft & More”. É uma palestra que o Stephen King deu em uma Master Class na University of Massachusetts Lowell, em 2012. Assisti a uma parte do vídeo, ainda não terminei de ver. Entretanto, o que me chamou a atenção, na realidade, foi um comentário e um reply de um perfil chamado Harley Quinn. Não vou colar os textos aqui porque são um pouquinho longos (para o padrão de comentário), mas é fácil de achá-los na própria página do vídeo.
Eu resolvi escrever este Cabra porque encontrei nesses comentários as palavras que finalmente conseguiram traduzir o que eu sinto (mas nem sabia que sentia) em relação à discussão sobre “literatura de qualidade”. E, logicamente, não podia deixar de dividir essa reflexão com vocês.
Baseando-me nos tais comentários, eu queria trazer aqui o que eu chamarei de “literatura cheeseburger”.
Cheeseburger é o tipo de comida que adoramos comer, não importa a idade que temos. É delicioso, suculento, satisfaz e nos deixa feliz. E não é só o fato de encher a pança. A diversão faz parte também! Mas, infelizmente, ele não é perfeito. Um dos seus problemas é o fato de não ser das melhores opções em termos de nutrição.
Quando nós somos mais jovens, costumamos comer cheeseburger com uma frequência maior. Com o tempo, a idade vai chegando, hahaha, e a gente passa a entender que… well… existem outros alimentos com valores nutricionais melhores, que vão nos fazer bem e ajudar a ter saúde. Alguns são até bem gostosos, rs. Então, a gente passa a comer mais brócolis, tomate, cenoura, etc.
No entanto, não é porque estamos mais conscientes da nossa alimentação que devemos nos privar de um cheeseburger de vez em quando. É uma delícia, é divertido! Não faz sentido ser estritamente proibido nem demonizado.
Eu acho que deu pra entender o que quero dizer com “literatura cheeseburger”, né? ^_^
Com relação ao hábito de leitura, é muito comum as pessoas começarem de pontos de partida diferentes, seja em termos de idade ou de tipo de livro. Tem gente que começou bem criancinha, com livrões cheios de figuras e letras grandes. Há quem tenha começado aos 10, 11, 14 anos de idade, com Harry Potter. Tem mulher adulta que começou com Cinquenta Tons. Isso não importa. Para tudo na vida, começamos de um começo, certo?
E, assim como tudo na vida, na minha opinião, acho realmente importante não deixar de lado o processo de evolução e amadurecimento constante. Aos poucos, vamos deixando de comer coxinha e pastel todos os dias, vamos aprendendo que não é legal encher a cara até cair em uma balada todo fim de semana quando se tem 40 anos de idade mesmo sendo solteiro, vamos entendendo que é bem provável que o homem perfeito das comédias românticas não exista.
Mas a vida também não tem que ser feita de brócolis, cenoura e tomate 7 dias por semana, 365 dias por ano. Não tem que ser feita só de jantares de negócios. Nem tem que ser feita apenas de homens entediantes.
Um cheeseburger de tempos em tempos NÃO FAZ MAL NENHUM!
Jamais, jamais, jamais deixe de consumir seus livros cheeseburger! Apenas dê a si mesmo a chance de experimentar novos tipos de leitura. Também não precisa ter pressa. Toda evolução é feita de degraus. Finnegans Wake, para muita gente (including me), ainda é um livro chato e inútil, pois não estamos preparados para entendê-lo e aproveitar o que ele tem a oferecer. Suba cada um desses degraus. Aos poucos, devagar. Mas sempre. =)
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O link do vídeo citado no começo do texto é esse.
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A seção “Cabra” é um nome curto para o que deveria se chamar “Morte da Cabrita”, onde coloco os textos resultantes das minhas reflexões profundas (ahan!) acerca de assuntos que envolvem o mundo literário, principalmente a grande delícia que é ser um leitor. A intenção jamais será ter a palavra final sobre o tópico abordado, e sim gerar discussões e novas reflexões. Post explicativo aqui. |